domingo, 2 de fevereiro de 2014

Quem é o inimigo e quem somos nós


“As pessoas não são conhecidas apenas pelo seu lado intelectual ou seus princípios, mas principalmente pelo amor. Quando amamos o próximo, o inimigo, aí então obtemos de Deus a chave para uma compreensão de quem seja nosso inimigo e de quem somos nós. É unicamente isto que poderá revelar-nos a natureza real dos nossos deveres e das nossas retas ações.

Quando ignoramos a pessoa e recusamos considerá-la como tal, como um outro eu, estamos lançando mão do ‘direito’ e da ‘natureza’, em sentido impessoal. Em outras palavras, estamos bloqueando a realidade do outro, estamos cortando a intercomunicação da nossa natureza com a dele, e consideramos apenas a nossa natureza, individual, com seus direitos, suas prerrogativas, suas exigências. De fato, contudo, estamos considerando a nossa natureza no concreto e a dele no abstrato. E assim justificamos o mal que fazemos a nosso próximo, pois ele não é considerado mais como um irmão, mas apenas como um adversário, um réu, um ente maligno.

Para restaurar a comunicação, para ver a nossa unidade de natureza com a dele, respeitar os seus direitos pessoais, a sua integridade e o direito de ser amado, temos também de nos encarar como réu, como ele, de sermos condenados à morte com ele, mergulhando no mesmo abismo que ele, necessitando, também como ele, do dom inefável da graça e da misericórdia, de maneira a sermos salvos.”


Seeds of Destruction, de Thomas Merton



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