terça-feira, 25 de março de 2014

Flor Amarela

Flor amarela
(Luz e espírito)
Canta sozinha
Para Ninguém.

Espírito de ouro
(Luz e vazio)
Canta sozinho
Sem uma palavra.

Que ninguém toque este suave sol
Em cujo escuro olhar
Alguém desperto está.

(Sem luz, sem ouro, sem nome, sem cor
E sem pensar:
Totalmente desperto!)

Céu de ouro
Canta sozinho
Para ninguém."


Thomas Merton, o poeta…



Em silêncio, aguarda


 Em Silencio...Aguarda

Escuta as pedras do muro

Permanece em silêncio

Elas tratam de dizer o teu nome

Escuta

As paredes viventes

Quem és?Quem?

És tu? O silencio de quem és?

Quem ( permanece calado)

És tu ( assim como estas pedras permanecem caladas)

Não penses sobre aquilo que és

Menos do que podias ser algum dia

Melhor ainda, sei o que tu és (mas quem?)

Sê aquilo impensável que desconheces

Ou aguarda, enquanto segues vivo

E todas as coisas que vivem ao teu redor

Falando ( eu não escuto)

Para o teu ser mais próprio

Falando para o desconhecido

Que está em ti e nelas mesmas

Tratarei como elas de ser o meu silêncio

E é difícil, o mundo inteiro está secretamente em chamas

As pedras queimam…ainda as pedras queimam

Como pode um homem aguardar ou escutar as coisas queimando-se?

Como pode atrever-se a sentar-se com elas quando todo o seu silêncio está em chamas?


Thomas Merton…o poeta…




                        



domingo, 16 de março de 2014

Sobre o amor



“Quer te digas interessado ou não no amor, basta estares vivo para que te diga respeito, porque o amor não é apenas algo que te acontece: é uma certa maneira especial de estar vivo.”



Thomas Merton




A vida em si é imperfeita...


“Não podemos deixar de errar o principal em quase tudo que fazemos. Que tem isso? A vida não é questão de tirar algo de cada coisa. A vida em si é imperfeita. Todas as coisas criadas principiam a morrer na mesma hora em que começam a viver, e ninguém espera de qualquer delas que chegue a uma absoluta perfeição e muito menos que nela se mantenha. Cada indivíduo é apenas um esboço da perfeição específica prevista para o seu género. Por que exigir mais do que isso?”


Extraído do livro No Man is an Island de Thomas Merton





Para mim


"Para mim, a atitude ‘mundana’ que creio ser nefasta não é apenas ‘voltar-se para o mundo’, nem mesmo a secularização total que se quer sem compromissos, da turma do ‘honest to God’. É ainda menos a nobre preocupação pela justiça social e pelo bom emprego da tecnologia a serviço das verdadeiras necessidades do homem em sua indigência e seu desespero. O que quero dizer por ‘mundanidade’ é o envolvimento na absurda e maciça mitologia da cultura tecnológica e em todas as invenções obsessivas de sua mente vazia. Um dos sintomas disso é precisamente a angustiada preocupação de manter-se em dia com a fictícia, sempre variável e complexa ortodoxia em matéria de gosto, política, culto, credo, teologia e que sei mais — um cultivar o jeito de redefinir, dia a dia, a própria identidade em harmonia com a autodefinição da sociedade. ‘Mundanidade’, a meu ver, é típico dessa espécie de servidão em relação ao cuidado com as aparências e a ilusão, essa agitação em torno de pensar os pensamentos certos e usar os chapéus corretos; essa vulgar e vergonhosa preocupação, não com a verdade, mas apenas com aquilo que está em voga. A meu ver, a preocupação dos cristãos em manterem-se na moda por medo de ‘perderem o mundo’ é apenas mais uma lamentável admissão de que já o perderam.”


Conjectures of a Guilty Bystander, de Thomas Merton




Vocação à solidão


“Entregar-se, dar-se, confiar-se completamente ao silêncio de uma vasta paisagem de bosques e colinas ou mar ou deserto; ficar sentado, imóvel, enquanto o sol desponta sobre a terra e enche de luz o silêncio. Orar a trabalhar pela manhã e dar-se ao labor da meditação ao entardecer quando a noite cai sobre a terra e quando o silêncio se enche de escuridão e estrelas. Essa é uma verdadeira vocação especial. Poucos há que estejam dispostos a pertencer inteiramente a um tal silêncio, a deixa-lo penetrar até os ossos, a nada respirar a não ser o silêncio, a se nutrir de silêncio e a transformar a própria substância da vida em um silêncio vivo e vigilante.”

"Na liberdade da solidão"


Thomas Merton



domingo, 23 de fevereiro de 2014

A Graça


O fim específico da Graça

“A Graça nos é dada com o fim específico de capacitar-nos a descobrir e realizar nosso si-mesmo mais profundo e mais verdadeiro. Enquanto não descobrirmos este si-mesmo profundo, que está escondido com Cristo em Deus, nunca nos conheceremos realmente como pessoas.”

Thomas Merton




domingo, 16 de fevereiro de 2014





“A chuva sob a qual estou não é como a das cidades. Esta enche a mata de sons imensos e confusos. Cobre o teto plano e a varandinha do chalé com ritmo insistente e controlado. E ouço, porque me recorda uma e outra vez que o mundo todo segue ritmos que ainda não aprendi a reconhecer, ritmos que não são os do engenheiro.”


(a foto é do chalé onde viveu Frei Louis nos últimos anos, inserido na área do Convento)




Céu, quando te ouviremos cantar,
Acima das colinas relvadas,
E dizer: “Fim das trevas, e o Dia
Exulta qual Esposo que sai do tálamo, belo sol,
Sua tenda, o sol; Sua tenda, o sorridente céu!”

O quanto esperamos, com a mente escura como um lago,
Estrelas deslizando para casa na água do nosso ocaso!
Céu, quando te ouviremos cantar?”




Thomas Merton

União e paz no amor


“Só há uma fuga verdadeira do mundo; não é escapar do conflito, da angústia e do sofrimento, mas sim da desunião e da separação, para a união e a paz no amor aos outros homens.”


“O mundo é a cidade inquieta dos que vivem para si e por isto estão divididos uns contra os outros numa luta que não pode ter fim, pois continuará eternamente ”

Novas Sementes de Contemplação, Thomas Merton



domingo, 2 de fevereiro de 2014


Quem é o inimigo e quem somos nós


“As pessoas não são conhecidas apenas pelo seu lado intelectual ou seus princípios, mas principalmente pelo amor. Quando amamos o próximo, o inimigo, aí então obtemos de Deus a chave para uma compreensão de quem seja nosso inimigo e de quem somos nós. É unicamente isto que poderá revelar-nos a natureza real dos nossos deveres e das nossas retas ações.

Quando ignoramos a pessoa e recusamos considerá-la como tal, como um outro eu, estamos lançando mão do ‘direito’ e da ‘natureza’, em sentido impessoal. Em outras palavras, estamos bloqueando a realidade do outro, estamos cortando a intercomunicação da nossa natureza com a dele, e consideramos apenas a nossa natureza, individual, com seus direitos, suas prerrogativas, suas exigências. De fato, contudo, estamos considerando a nossa natureza no concreto e a dele no abstrato. E assim justificamos o mal que fazemos a nosso próximo, pois ele não é considerado mais como um irmão, mas apenas como um adversário, um réu, um ente maligno.

Para restaurar a comunicação, para ver a nossa unidade de natureza com a dele, respeitar os seus direitos pessoais, a sua integridade e o direito de ser amado, temos também de nos encarar como réu, como ele, de sermos condenados à morte com ele, mergulhando no mesmo abismo que ele, necessitando, também como ele, do dom inefável da graça e da misericórdia, de maneira a sermos salvos.”


Seeds of Destruction, de Thomas Merton



segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Comunicação e Comunhão


 


“O nível mais profundo de comunicação não é comunicação, é comunhão. É sem palavras.
Está além das palavras, além do discurso, além do conceito.
Não que descubramos uma nova unidade. Descobrimos uma unidade antiga.
Caros irmãos, já somos um. Mas imaginamos que não o somos. O que precisamos é recuperar a nossa unidade original.”
 
Thomas Merton

domingo, 12 de janeiro de 2014


Aprenda a meditar, contemplar, orar

 
 
“Aprenda a meditar sobre o papel. Desenhar e escrever são formas de meditação. Aprenda a contemplar as obras de arte. Aprenda a orar nas ruas ou nos campos. Saiba meditar não só quando você tem um livro em mãos, mas também enquanto espera um ônibus ou viaja de trem. Quem só sabe pensar em Deus em períodos fixos do dia jamais irá muito longe na vida espiritual.”

 
 

Penetrar no mistério da verdade


 
“Na leitura, por exemplo, passamos de um pensamento a outro, seguimos o desenvolvimento das ideias do autor e, se lermos bem, contribuímos com algumas  ideias próprias. Essa actividade é discursiva. A leitura se torna contemplativa quando, em vez de raciocinar, abandonamos a sequência dos pensamentos do autor, não só para seguir nossos próprios pensamentos (meditação), mas simplesmente para erguer-nos acima do pensamento e penetrar no mistério da verdade, que é vivido intuitivamente como presente e real.
A intuição contemplativa da realidade é uma percepção de valor: não uma percepção intelectual ou especulativa, mas prática e vivencial. Não é só uma questão de observar, mas de dar-se conta. Não é algo abstracto e geral, mas particular e concreto. É uma captação pessoal do sentido e valor existencial da realidade.”
 
 
 
 

Só podemos ser santos se formos humanos


 
 
Vir para o mosteiro foi, para mim, exactamente o tipo certo de retirada. Deu-me uma perspectiva. Ensinou-me a viver. E agora devo a todas as outras pessoas do mundo uma parte dessa vida. Meu primeiro dever é começar, pela primeira vez, a viver como membro da espécie humana, que não é mais (nem menos) ridícula do que eu mesmo. E meu primeiro acto humano é reconhecer o quanto devo a todas as outras pessoas.
Mas o mundo foi feito por Deus e é bom, e, se o mundo não for nossa mãe, não poderemos ser santos, porque só poderemos ser santos se formos, antes de tudo, humanos.”
 
 

O Deus feito de palavras e sentimentos


 
“Temos uma máscara externa, superficial, que juntamos às palavras e às acções que não representam plenamente tudo o que há em nós; assim também, até as pessoas de fé tratam com um Deus feito de palavras, sentimentos e slogans reconfortantes, menos o Deus da fé do que o produto de rotinas sociais e religiosas. Esse ‘Deus’ pode tornar-se um substituto da verdade do Deus invisível da fé, e, embora essa imagem reconfortante possa parecer-nos real, ela é realmente uma espécie de ídolo. Sua função principal é proteger-nos contra um encontro profundo com nosso verdadeiro eu interior e com o verdadeiro Deus.

A intuição contemplativa da realidade é uma percepção de valor: não uma percepção intelectual ou especulativa, mas prática e vivencial. Não se trata apenas de observar, mas de dar-se conta. Não é algo abstracto e geral, mas concreto e particular. É uma compreensão pessoal do sentido e do valor existenciais da realidade.”